domingo, 31 de maio de 2015

WAR

Sempre adorei começar a minha missão no WAR conquistando primeiro a Europa. Em parte por ter algum anseio napoleônico dentro da alma, embora o grande motivo sempre foi saber que era a melhor maneira de depois me lançar sobre as Américas, Ásia e pegar a Oceania por diversão no processo. Estratégia, segredos, e o lançar dos dados. Algumas pessoas tratam relacionamentos como se fosse um jogo de tabuleiro - seja invadindo seu raciocínio mais rápido do que se fosse pelo cabo de Vladivostok, seja sempre dando o tempo de terror entre os ataques e jogadas. E, se bobear, arrasam e te levam Madagascar no processo.

O que aconteceu com o tempo onde as coisas pareciam ser mais simples? Quando não haviam regras de espera e do que seria esperado. Constantemente me dividido entre a emoção de uma corrida e a angústia de uma vingança que não busco. Aumento o número de exércitos, remanejo-os, posso até mandar um tangue. Mas, independente da diversão, uma parte grande de mim gostaria apenas de parar o jogo e deixar os dados intocados, todos eles com o seis voltado para cima. Não irá acontecer, ao menos não agora.

Chega um tempo em que o tabuleiro se torna seu quarto; pessoas antigas saem das caixas, enquanto outras mais recentes entram. O riso trocado em uma cama juntinhos ou o jogo de palavras em idiomas que não o nosso se misturam nas lembranças de outros: com as discussões, um casaco verde, carta colada na TV do quarto, uma aliança de namoro, que nunca foi usada ou existiu, um olho mel e outro preto no mesmo rosto. Cada um com seu jogo, suas regras, seus peões, suas lutas. Seu jeito!

Mesmo arrancando peças alheias e perdendo pedaços próprios no caminho, ainda consigo assistir no horizonte uma conquista nova. Europa, Ásia, e um grande país ao sul de uma América. E eu ataco com cinco exércitos pelo cabo de Vladivostock, só para conquistar teu coração.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Encontro a Mim Mesma

Não é de hoje o medo, embora seja de dias atrás a sensação recorrente sem o esconderijo da negação. É a minha risada que sai mais aguda e nervosa do que o normal, ainda não consigo compreender e entender "Por que ele fez isso?"

O devanear lógico que me leva quase ao enjoo e o constante pensamento: "eu perdi o jeito?".

Quando olho pelo meu ombro, para os últimos anos, eu sou obrigada a dizer que talvez. Mas eu consigo enxergar as provas que apontam para o não, os indícios, os sorrisos, os olhares cruzados. E, mesmo com todo um arsenal para levantar a auto estima, a voz crítica na minha mente pergunta, do mesmo modo que me perguntou em um Outubro tão distante quanto uma outra vida, se é o suficiente.
Talvez a verdadeira pergunta seja se eu sou o suficiente. Não para os outros, mas para as expectativas que tenho de mim mesma.

O pior inimigo é aquele que me olha no espelho, se perguntando o que poderia ter melhorado. Também é meu melhor amigo, que me faz ter o desejo de evoluir, de tocar as notas sem errar, de continuar firme nos valores, na lógica, no que é certo. E nessa ambiguidade e na equivalência de suas críticas, eu encontro à mim mesma, com os olhos ainda sem saber a resposta de qualquer pergunta cujo controle não seja exclusivamente meu.

Enquanto vejo os sinais escritos na tela do computador, eu me pergunto se eles são o suficientes. Aqui, e ali.

sábado, 16 de maio de 2015

Aquela Noite

Apesar de não saber, ele me ajudou a sair da tormenta. Ele me mostrou que ainda havia um erro pelo qual se arrependia e eu sai de um erro para ir de encontro ao que acreditava que era um acerto. 
Eu queria ver uma luta, não por ele, mas porque havia um duelo muito maior em mim: Do meu coração com a lógica e parecia que estava determinado a bater mais rápido que um beija-flor, em cada despedida. Naquele momento, voltei para uma nuvem que tinha o cheiro doce dele.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Você Me Deixou Sozinha

É gostoso se deixar acreditar naquela história de que, na hora certa, você saberá qual decisão tomar. Que uma campainha tocará no fundo do seu cérebro e você verá exatamente qual caminho da bifurcação é o correto, o mais feliz, o decente, o ético, o verdadeiro. De fato, algumas poucas vezes na vida eu tive a epifania do que fazer exatamente quando era necessário; no entanto, a maior parte do tempo a sensação é de esperar que a decisão seja feita pelas circunstâncias mais do que pelo pulo arriscado que é escolher. O maior medo de todos, talvez, seja que o que você quer não seja o que você precisa e que a escolha tenha sido tão, mas tão, errada.

Tomar uma escolha e não olhar para trás é a mesma coisa que mergulhar e confiar que não haverão pedras te esperando no mar tumultuado. Você nunca sabe: apenas torce, pressente e espera que o mergulho dê certo. As vezes você se afoga por alguns segundos antes de emergir e pensar "eu iria novamente". Mas sempre há o terror da idéia de que você pode não conseguir subir mais: a escolha não deu certo, você estava errado e não há mais volta.

Nos últimos meses, estive ensaiando a mesma queda livre diversas vezes. Por orgulho nunca me deixando saltar, e por medo nunca querendo saber o que me esperava lá embaixo. E, então, acontece a aparição que te faz acreditar que talvez a grande questão não seja exatamente o que te espera, mas o que te acompanha.

Muitas vezes eu desejei que houvesse alguém pronto para me segurar no final de cada salto. Uma rede de segurança bem firme, logo abaixo, pronta para aguentar a pressão do vento comigo. Porém, a cada dia, eu percebo que não é sobre o choque final, e sim sobre o momento anterior: quem está com você. Quem segurou sua mão. Quem passou em cima dos próprios medos, inseguranças, traumas, lembranças boas e ruins, para poder pular com você.

Se há alguém segurando sua mão, não é necessário destino. O maior impacto não é o vento gelado, ou a água revolta, ou o que for: são cinco dedos entre os seus. Firmes, fortes. Sem medo da queda. Sem medo de você

Lugar Escuro

A primeira vez que estive nesse lugar, estava me recuperando de um coração partido. Na segunda vez, meu coração estava cego. Agora, na terceira vez, a beleza de tudo ao meu redor parece ser multiplicada pela percepção que, mesmo com novas cicatrizes, meu coração pela primeira vez em muito tempo consegue captar a energia vibrante e a magia inerente à natureza sem estar perdido numa ilusão interior. Sem sofrer pelo que não alcançou, e sim se felicitar por tudo que está presente nesse momento.

Foi colocado para mim que é necessário muita coragem para arder no fogo sem se deixar sumir nele. Ser destruído pode ser parte essencial do plano para se reconstruir da maneira mais verdadeira possível, mas esse termo tão pesado parece esconder que por trás dele existe a oportunidade de ressurgir das cinzas. Não foi gostoso; pelo contrário, foi a pior dor que já senti: me dilacerou por dentro, me definhou o rosto, me fez perder por alguns momentos o prazer em sentir o mundo ao meu redor. Mas agora... agora sinto melhor todo o mundo. Me sinto como alguém que passou uma dupla de anos vendo tudo em preto e branco e que finalmente enxerga todas as cores - até mesmo as que jamais vi antes.

Corri pela grama, me alegrei na água fresca, quis fazer parte dos quadros que meus olhos captavam. Não senti vergonha alguma do ser completo que sou, e senti meu corpo empreitar-se para encaixar-se mais naturalmente ali. Mais do que a natureza, aos poucos vou sentindo minha alma se revelar em sua essência e descubro que ela é mais resiliente do que esperava: tal qual os ferimentos antigos que se fecham e me dão a chance de pular novamente, estou finalmente me fortalecendo dentro de quem amo ser: por mim, para mim, mas por todos no meu coração também. Finalmente.

Quando se está no abismo da depressão, acho que é quase unanime que paramos de ver sentido em qualquer atividade: o que amamos parece que não nos toca, e o que não nos faz bem parecem ser as únicas coisas que chegam até nosso espírito. Com tempo, tratamento e amor (próprio, dos seus amigos, da sua família, dos que te rodeiam), começamos a colocar pequenas doses de alegria dentro de nós mesmos - o texto lido, a risada inesperada, a sensação de estar bonita no espelho. São pequenas conquistas que merecem ser celebradas sempre que ocorrem, pois fazem parte do grande cenário da batalha na qual estamos durante a doença. Comemore cada dose extra de felicidade, mesmo que pareça um fantasma de alegria, pois em tempo haverá de ser alegria de fato.

Hoje parece que tenho momentos difíceis, mas os dias tem se tornado mais gostosos. Os fantasmas ainda me rodeiam, mas baixamos uma nova cortina (transparente, ciente, mas separadora) entre nossos mundos e a sensação que fica é que voltei a me encontrar nesse universo onde vivo - e vivo, sim, não mais apenas sobrevivo ou existo. Pois meu coração está preenchido por muitas pessoas, coisas, lugares e sensações que valem a pena amar; e em cada abraço, flor, mensagem e colo, encontro mais do que faz continuar acreditando no futuro valer sempre a pena: à mim e ao presente.

domingo, 3 de maio de 2015

A Culpa é da Austen

Tenho uma certeza bastante acirrada que a srta. Austen teria ficado mais do que feliz em colocar grandes alertas em neon em cima da cabeça de todos os senhores Wickham e Willoughby, nos conceder grandes bailes onde o tocar de duas palmas fosse eletrizante e possivelmente colocaria doses altas de declarações de amor poéticas. Claro que, como bem já disse num texto mais cedo esse mês, a grande lição dela é sempre de manter a esperança (mesmo que você seja Anne Elliot, não é?) e de nos mantermos atentas ao que se esconde por baixo das aparências.

Mas é difícil as vezes imaginar se há contrapartes de fato no mundo que sejam tão certeiras quanto nos livros. Em uma realidade onde te julgam por não confiar e ao mesmo tempo te contam uma traição, onde um sistema eletrônico parece o meio justo para terminar com alguém com quem se falava de casamento e onde pessoas sem remorso, sem noção e trapaceiras andam soltas em cada esquina... Como ainda acreditar em finais felizes? Como não se dobrar quando falam que é bobagem esperar ligações verdadeiras? Ou, ainda: como se manter fiel ao que tanto te falam para continuar tentando, em todas as esferas?

Tem dias em que todas essas questões rodam minha mente incessantemente; parece que há ali um medo tão latente, por baixo de toda a fé, que as vezes sobe e grita aos ventos seus temores. E eu o ouço, porque as vozes na nossa mente são as mais difíceis de calar. Mas, ainda assim, quero me apegar no que considero os verdadeiros finais felizes; as pessoas que de fato acham uma relação de via dupla, onde ninguém faz ninguém de bengala, onde há de fato uma troca de amor; aqueles que oferecem seus sorrisos aos demais mesmo quando falta em si mesmos; onde há saúde e beleza na realidade, e não ilusões açucaradas com olhares e confissões; os que não deixam de apostar em seus próprios corações, embora esses últimos tenham sofrido as piores decepções. Esses últimos, em especial, são os grandes heróis dos meus olhos.

São essas pessoas que me fazem pensar que romances, sejam de quem for, são reais. Não apenas romances no sentido mais românticos, mas todas as relações humanas: as amizades que nos machucaram, os laços de irmandade que se mostraram fracos... Que não é perda de tempo acreditar, ter fé, ficar de olhos abertos para o que é especial. Cantar as canções de ninar - mesmo aquelas que você julgou perdidas - para os medos pessoais, manter os olhos abertos para quem de fato é verdadeiro, continuar um dia de cada vez dando chances aos que entram em todas as esferas.

Por mais que Austen não tenha me preparado para uma vida de batalhas de fato, ela me ensinou um pouco que não vale a pena viver sem cicatrizes. Razão e sensibilidade trabalhando juntos para ver o mundo, deixando orgulho, preconceito e persuasão de terceiros para lá. Então, é. Talvez dona Jane tenha me preparado para isso, no final das contas: para trabalhar em acreditar em histórias felizes.