"E se for eu? E se eu tenha essa ideia de amor na minha cabeça e ela está totalmente errada?"
Como em um romance de segunda categoria, cheguei à conclusão que o mundo como eu o conheci se ruiu debaixo dos meus pés e foi trocado por uma junção fantástica e abençoada de novos conhecimentos e medos. E um punhado de dor de cabeça. Então, é claro, achei que a coisa mais saudável a se fazer seria esquecer minhas histórias amorosas e dividir com o mundo a respeito dos meus novos conhecimentos sobre a vida e relações humanas - porque é esse tipo de coisa estranha que faço, ao visto, aqui neste quarto escuro (blog) que decidi dividir com vocês.
Passei 21 anos da minha vida acreditando no que me disseram em contos da fada, literatura clássica e filmes da Disney, de que um dia cruzaria olhares com um completo estranho na rua e que essa pessoa seria "a pessoa" da minha vida.
Pode ser um romantismo absurdo, imaturidade ou infantilidade, mas de fato acreditava de todo o meu coração que existiria alguém que seria minha alma gêmea; E agora, de maneira absurdamente leve e assustadoramente rápida, meu coração percebeu que não é bem assim que a banda toca. Não mesmo...
Ainda acredito e confesso, até mais do que acreditava quando acordei ontem, que existem almas e espíritos destinados a se encontrarem e que compartilham uma ligação (elo) inequivocadamente romântica e eterna. Só que não acho mais que todas as pessoas só vão encontrar UM exemplar desses, ou que existirá aquele UM que superará todos os outros.
Pode ser que de fato existam “aqueles que cruzarão apenas uma vez com uma alma dessas e que não haverá espaço para dúvidas” - se esse é o seu caso, ótimo para você e felicidades, mas finalmente fui chocada com a realidade de que esse não é o meu e acredito que de sua maioria também.
Entreguei uma chave do meu coração pela primeira vez quando tinha 17 anos. Não percebi o que tinha acontecido, apenas que tinha dado à ele a chance de destrancar uma fechadura em uma sala especial dentro do meu espírito - um cômodo do qual já ouvia falar, mas que só então conheci. Mesmo com outras paixões, verdadeiras, felizes, trágicas, rápidas e longas, foi com ele que deixei aquela chave, aquele espaço, pela primeira vez e por mais que houvessem outras pessoas durante os anos seguintes que vivessem ao redor, havia aquele lugar onde só ele sabia entrar. Passei noites e noites em claro desejando que houvesse alguém que pudesse substituí-lo ali, tomando seu lugar e essa sala; e talvez seja um desses casos de que devemos ter cuidado com o que desejamos, pois quatro anos após um último beijo houve um primeiro beijo que mexeu com minha alma.
Tive inseguranças e dúvidas demais para serem citadas em um texto. Não sei se posso me culpar, mas a realidade é que uma parte de mim achou quase que absurdo o fato de que havia mais alguém que poderia passar por aquela porta. Passei outras tantas noites sem dormir, comparando-a com ele, com raiva das circunstâncias e com receio de que não haveria terceira chance e então disse SIM! Sim à ele e ao nosso futuro juntos.
Mas como o universo conspira muito mais do que nossa mente, um pouco mais de seis meses depois de mais um último beijo houve outro PRIMEIRO BEIJO; outra chave entregue. E, dessa vez, havia me prometido colocar a armadura pesada do medo e não me jogar, como fazia antes, mas me joguei, e o amo, e não o trocaria por ninguém.
No entanto, ele não me fez esquecer os outros e nem irá. Ninguém irá substituir nenhum deles, nunca.
Logo, percebo que o amor que uma vez senti, e é romântico, continua vivo dentro de mim tanto quanto quando eu tinha 17 ou 21 anos: Ele respira, ele existe. Cada vez que encontrar algumas pessoas, sentirei que há uma chave sendo colocada na porta, que alguém pede para entrar.
No momento a terceira pessoa ocupa toda a sala, todo meu sorriso: cada dia com ele é uma experiência nova, cresço mais, amadureço mais, e o amo mais - e agora com a consciência de que meu amor por ele, minha escolha emocional de que ele é a pessoa certa para mim, nesse momento (e, quem sabe, para todos os outros), não retira o fato de que os outros dois também são os amores da minha vida.
"Amor da minha vida." Esse é um termo que não saia da minha boca há alguns meses, que não tive coragem até então de empregar novamente, mas que agora o faço de coração leve e certeiro. Eles são as pessoas de quem jamais serei amiga, mas que sempre serei a maior amiga. Não sei se as chaves são só três e meu futuro estará entrelaçado com uma dessas pessoas em particular, mas sei que não importa o TEMPO, a DISTÂNCIA, a COMPANHIA, as escolhas minhas ou deles, meu amor continuará.
Todas aquelas vezes que achei que o amor deixaria de existir, estava falhando em entender que o amor de verdade jamais morre. Parece quase que semelhante a esperança, ao ter fé, mas ele ainda tem um pé terreno que só quem sente duas almas conectadas e ainda presas em seus corpos consegue entender. Não é meramente o incondicional, o altruísta e a firmeza que o tornam transcendental, mas há uma qualidade de fogo que pode tanto corroer como, mais maduro, aquecer, marcando quem o carrega.
Estou há um pouco mais de 24 horas matutando e tentando digerir de que talvez o destino tivesse sido conhecer essas pessoas, e que haverá pelo caminho circunstâncias, opiniões e momentos que me façam estar com uma ou outra.
Nesse preciso e exato momento da minha vida, sei exatamente o que é o certo para mim e quem quero nesse agora e estou tentando conviver com a noção de que ainda tenho muito o que aprender e viver antes de compreender o momento e a decisão que é quando decide-se estar "para sempre" com alguém. Porque pedir pra casar e dizer que me ama é muito fácil.
Dentro do meu coração, começo a entender que a jornada de amar jamais tem volta e paradas, apenas um caminho em frente. E, seja o que for que essa trilha me guarda, acho que posso me considerar sortuda e orgulhosa por amar três pessoas únicas de forma incondicional, romântica, louca e, assumidamente, por toda a minha vida.
No fundo acho que estou vendo que a pessoa "certa" é uma escolha, e não uma imposição; como ser humano, obviamente haverá o medo de fazer a escolha errada, mas como apaixonada, posso dizer que pela primeira vez em muitos anos estou finalmente confiando nos caminhos dos meus próprios sentimentos - que hoje continuam de mãos dadas com a pessoa com quem escolho estar na sala mais escondida do meu coração.
Descobri que meus sentimentos e meu destino, caminho, ou seja como quiser chamar, são muito maiores do que um dia acreditei. E, tomada por todo o amor do mundo, pela primeira vez em anos acho que finalmente entendo o conceito do quão livre é o verdadeiro amor!