quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ingenuidade

Eu queria dizer que eu sinto falta de tanta coisa, mas na verdade eu só sinto falta de uma ingenuidade besta que me encantava em relação ao mundo. 
Eu me encantava sem motivo, eu via tudo colorido e sonoro. 
Eu ouvia imagens lindas e passava horas alimentando ilusões.
O tempo passou.
Eu não perdi minha fé na vida. Eu ganhei. 

O olha da fé, quando não é o mesmo olhar da ilusão, te mantém realista. 
Quando existe fé, existe paciência, persistência e força de vontade. 
Fé objetiva, fé no que se acredita. 
O encanto se dissolve em grãos quando se tem fé. 

A ilusão das generalizações e dos julgamentos, dos rótulos vazios, tudo se dispersa no ar. 
As importâncias derivam de outros lugares. 
E o que parecia tão necessário, tão imprescindível, agora é um vazio. 
E as pessoas que transitam no encanto já não falam a mesma língua. 

Eu sou sem raízes do agrado e da popularidade, da ambição, do ego e do exibicionismo, da competição acirrada para chegar a lugar algum. 

O belo, a arte, ainda me encantam, mas me encanta ainda mais o propósito de vida que se utiliza da arte para comunicar e modificar. 
E as pessoas em geral me encantam menos. 

Me encanta o desencanto de si, que move atitudes benéficas e conscientes. 
O que está submerso se mantém, o que vem a tona modifica. 
Quem permanece submerso não compreende, mas a compreensão é silenciosa e indolor, enquanto que o conflito pulsa, e no seu burburinho, separa. 

A fé é como o silencio. 
Se cultivada torna-se forte e filme, e quebra-la atormentaria quem lança o som.








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